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20-outubro-2025 Ano 1

Psicologia do esporte: a importância na vida dos atletas de alto nível

Em meio a um cenário repleto de desafios, competições e pressão, o acompanhamento psicológico é essencial para os atletas manterem o equilíbrio mental e o seu desempenho

Por Giovanni Caprio, Lara Mansur, Maria Luisa Duarte e Renata Renesto

O equilíbrio mental é essencial para o sucesso de um esportista de alto rendimento. A forma como ele lida com as emoções impactam suas escolhas, sua capacidade de manter a calma sob pressão e a regularidade de seu desempenho. 

Frequentemente, o que separa um atleta mediano de um campeão não é só o talento físico ou a técnica, como também sua habilidade de enfrentar os desafios da jornada. Problemas como lesões, críticas ou falta de chances podem prejudicar o desempenho se não houver um apoio emocional. Por isso, os especialistas do esporte valorizam cada vez mais o preparo psicológico nos treinos e competições.

  Além do auxílio profissional, muitos atletas usam técnicas como imaginar o sucesso, concentrar-se no agora e conhecer a si mesmos para se manterem equilibrados dentro e fora do esporte. Essas práticas melhoram o desempenho e evitam problemas emocionais que podem piorar. 

A saúde mental não é mais um problema escondido no esporte e se tornou essencial para vencer. Cuidar disso é garantir que o talento seja acompanhado por uma mente forte e autoconfiança, mesmo nos momentos mais difíceis.

Arthur Garcia da Motta, 24 anos, atual goleiro do PFK Beroe, é um atleta de futebol profissional que iniciou sua carreira no futebol pela equipe sub-20 do Fortaleza. Após alguns destaques, chamou a atenção do São Caetano e, posteriormente, do tradicional Guarani. Ele se transferiu para a Bulgária no meio de 2023, onde segue até hoje. Ao longo de sua carreira, Arthur sofreu com uma lesão muito grave e temida por todo atleta profissional: a ruptura do menisco. 

Após a lesão, o jovem jogador cogitou encerrar a sua carreira profissional, mas com a ajuda de especialistas ele recuperou a confiança e se tornou um dos melhores goleiros do campeonato búlgaro. Sem a psicologia presente em sua vida, essa trajetória talvez tivesse outro rumo. Esse é um dos exemplos que demonstra a importância do acompanhamento psicológico na vida de atletas de alto rendimento. 

Foto de Giovanni Caprio/AgenZia

Para me ajudar nisso recorri a um psicólogo esportivo que segue comigo até hoje, e o resultado disso é ter uma sequência muito grande de jogos como titular, com excelentes números e atuações, numa primeira divisão da Europa, sendo um goleiro jovem, afirma. 

Estratégias para uma boa saúde mental em competições

A história de Arthur se repete em diversos cenários de vários outros atletas profissionais de alto rendimento. Antes do atleta, vem o ser humano. Esse está sujeito a qualquer tipo de problema, seja pessoal ou profissional.

É o que diz Luana Gastão, psicóloga que trabalha no Corinthians, há um ano e dois meses, nas categorias sub 16, 17 e 20. Ao trabalhar com um atleta que sofreu uma lesão gravíssima no joelho, é natural ele ficar com medo de se machucar novamente. Medo é proteção. Por isso, os profissionais da saúde trabalham juntos na área esportiva. O fisioterapeuta ou médico, pede ao psicólogo para conversar com o atleta. É preciso reconhecer o sentimento para enfrentá-lo. Assim que surge a importância da psicologia. 

“A gente costuma dizer que sem saúde mental não existe desempenho, não existe performance”, diz Luana. Com a parte tática, do treinador, a parte técnica, do jogador, a saúde mental também é trabalhada com os psicólogos. No mundo do esporte, sentir ansiedade, pressão, não apenas do público, mas do time, e saudade de casa, é normal. Com essa grande demanda de carga emocional que os atletas precisam lidar, o principal trabalhado nos jogadores é o autoconhecimento. 

É necessário aprender a sentir para saber lidar. Uma das principais estratégias utilizadas pela psicologia é a ressignificação, atribuindo um sentido novo ao que acontece. Quando a arquibancada coloca muita expectativa sobre um atleta, os psicólogos podem trabalhar com a ideia de que pressão é um privilégio, já que as pessoas esperarem algo dele significa que ele pode se desenvolver mais. É dessa forma que a mentalidade muda. 

O trabalho da psicologia, de acordo com Luana, também é manter o foco dos jogadores. Com o desenvolvimento das redes sociais, muitas críticas são feitas aos atletas. É nessa hora que eles precisam se conhecer para não tomar a verdade do outro como a verdade deles mesmos. Por isso, é necessário manter o foco no que interessa individualmente e em grupo.

Depois da pandemia de Covid-19, a saúde mental deixou de ser um tabu, segundo Luana. O mental é um dos pilares fundamentais da vida, o que está sendo comprovado cientificamente cada vez mais. Uma saúde mental colabora com o desempenho do atleta. As pessoas têm entendido que uma boa qualidade de vida tem a ver com o psicológico. “Você pode ter saúde, saúde física. Mas se você não conseguir lidar com as suas próprias emoções, isso te trava um pouco”, diz ela. Dessa forma, a procura por tratamento mentais tende a aumentar. 

O papel da família 

Nadadora profissional do Corinthians, Maitê Gregório, relatou que usufrui do acompanhamento psicológico desde 2021. A atleta passou por uma situação de frustração após uma má performance em uma competição. “Eu comecei a passar com uma psicóloga em 2021. Eu tinha 14 anos. E foi minha mãe que me influenciou a começar com a psicóloga. Foi depois de uma competição de 200 metros livres que eu nadei muito mal. Saí chorando, enfurecida, falando: ‘Meu Deus do céu.’ Logo depois eu tive outra prova, e fui muito mal nas duas. Meu psicológico já estava abalado”, conta Maitê. 

Foto: Reprodução/Maitê Gregório

Com o tempo e as sessões, a nadadora foi se desenvolvendo e se autoconhecendo cada vez mais. Cada atleta lida de uma forma diferente com os desafios que aparecem ao longo da carreira. Em vivências de competições, Maitê encontrou como alternativa para manter o equilíbrio mental o controle da respiração, que foi desenvolvido com sua psicóloga. Além disso, executar as atividades no tempo dela é de grande ajuda, como treinar o seu próprio ritmo. 

Na vida da nadadora, Ubiratan Marcelino – técnico aposentado do Corinthians – foi muito importante para a relação dela com os pais. Ele tinha o cuidado de orientar a família para não cobrarem o atleta. “Era para não prejudicar as crianças, porque muitas pessoas desistem do esporte por conta da pressão dos pais”, diz Maitê. 

No meio esportivo, o apoio e a segurança da família faz toda a diferença na vida de um atleta de alta performance, principalmente entre os ingressantes. A nadadora, por mais que tenha começado a cuidar de sua saúde mental recentemente, já viu muita diferença, inclusive os pais. Visando a importância do meio psicológico para os atletas, ela diz: “E não é igual fazer sessão normal de psicologia. Psicologia esportiva realmente é diferente da comum”. 

Psicologia do esporte 

A pesquisadora e professora Katia Rubio conta que a psicoterapia trata de questões pessoais que podem ser atendidas e amparadas pensando na existência do atleta, enquanto a psicologia do esporte foca nas questões relacionadas à vida do atleta, na busca pelos seus objetivos e metas nunca alcançadas antes. Em seu artigo “A psicologia do esporte: histórico e áreas de atuação e pesquisa”, Katia relata que a psicologia do esporte estuda e atua em situações que envolvem a motivação, personalidade, agressão, violência, liderança, dinâmica do grupo e bem-estar dos atletas. A pesquisadora interpreta a psicologia do esporte como um campo de atuação interdisciplinar, ou seja, que se complementa com outras especialidades como a medicina, fisioterapia, nutrição e a biomecânica do esporte para um estado de melhor disposição, satisfação e conforto do atleta de alto rendimento.

Kátia ressalta a importância de se ter uma boa preparação emocional sendo um atleta de alto rendimento. Ela explica que um atleta de alto rendimento precisa ter boas condições de vida e tempo de descanso para uma melhor atuação. “Ele precisa de tempo para poder se distanciar um pouco da sua atividade profissional”, diz. “Tempo para conviver com familiares e de ter amigos, uma vida social que muitas vezes é colocada em segundo plano na busca dos objetivos maiores do esporte.”

Kátia conta que o tempo de carreira pode variar de atleta para atleta Isso porque o tempo produtivo de um esportista de alto rendimento não está relacionado apenas às suas condições físicas, mas também com a sua disposição emocional para lidar com essa vida que é feita de muitas restrições. “Às vezes o corpo do atleta até suportaria trabalhar por mais tempo, mas o desgaste emocional das competições, muitas vezes leva as pessoas a abandonarem as carreiras ainda novos”, continua. “A decadência do corpo é inevitável, mas essa associação entre o físico e o emocional é uma grande equação para uma carreira longeva.” 

Rubio destaca que os sinais de fadiga, seja por lesão ou simplesmente pelo cansaço da rotina de treino e competição, é um dos indicadores mais importantes que um atleta deve reconhecer na hora de parar de competir, um limite da vida do atleta que não deve ser ignorado. “A carreira do atleta, ela termina cedo, depois disso a pessoa ainda vai ter outra vida produtiva, pode ser no esporte ou não.” 

UTILIZAÇÃO DE IA
Autoria Humana Exclusiva

Este conteúdo não demandou a Inteligência Artificial em etapa alguma do processo jornalístico.

Giovanni Fernandes Caprio

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