segunda-feira

20-outubro-2025 Ano 1

Do quarto ao topo do mundo: Kheyze, a estrela global do Rainbow Six

Descubra a jornada do garoto brasiliense que jogava videogame em casa e se tornou um dos melhores e-jogadores do mundo

Nos últimos anos, os esportes eletrônicos deixaram de ser um simples passatempo e se tornaram um fenômeno esportivo global. No Brasil, esse crescimento ganha força com uma nova geração de atletas digitais que movimenta arenas lotadas, transmissões internacionais e contratos milionários. No centro dessa revolução está o brasiliense Kheyze, um dos maiores nomes do competitivo de Tom Clancy’s Rainbow Six Siege, que hoje figura entre os três melhores jogadores do mundo.

De Diego a Kheyze: uma trajetória que começou em casa

Antes de brilhar nos palcos internacionais, Kheyze era apenas Diego Zanello, um garoto que, assim como muitos outros, passava as tardes no quarto jogando videogame. 

“Quando chegava da escola, ia direto pro quarto jogar FIFA, Mortal Kombat, GTA… mais tarde começou a competir no COD e conquistou títulos ainda adolescente”, contam os pais Carla e Newtoniano.

O apoio familiar, porém, não foi imediato.

“Tivemos um certo receio quando ele disse que queria ser Pro Player. Ele era muito novo e a gente não conhecia esse cenário de games. Isso nos assustou bastante no início”, relembra a mãe.

Conciliar os estudos com treinos intensos foi um desafio para Kheyze. A família acompanhou de perto seu desempenho na escola para garantir que os jogos não prejudicassem sua educação. Quando completou 18 anos, Diego deu o primeiro grande passo ao entrar para a Série B de Rainbow Six, como se fosse a “Segundona do Brasileirão”. Em agosto de 2021, recebeu o convite para testar na Série A, conquistou a vaga e se mudou para São Paulo, onde sua carreira profissional começou de fato.

Segundo o artigo “Conheça a trajetória de Kheyze, eleito melhor jogador de R6 em 2022” feito pelo jornalista Carlos Vinicius, seu início na W7M não empolgou os torcedores, causando dúvida sobre seu futuro no cenário.

“Sua chegada não deu muito ânimo do time, que terminaria em oitavo na disputa com 10 equipes. Individualmente, o jogador até conseguiu números interessantes, como o rating 1.04 (dentro do top-15) e 87 eliminações, sendo 16 de abertura”, escreveu Carlos Vinicius.

Mesmo com todas essas adversidades, em 2022, Kheyze foi eleito o melhor jogador do ano no Brasil. Com brilho de Diego, o time chegou na final do Brasileirão, superando ironicamente a Fúria nas semis, na época seu adversário, mas hoje seu atual time.

Longe de casa: o lado invisível do sucesso

O brilho dos holofotes esconde uma realidade silenciosa: a distância da família e a rotina intensa. Longe de casa desde os 18 anos, Kheyze aprendeu a lidar com a saudade e com necessidade de estar sempre em alto nível.

“Tem dias que você acorda cansado, sente falta de casa, mas tem que estar 100%. Isso faz parte da vida de um pro player”, afirma o jogador.

A cultura de alto desempenho nos e-sports vem se profissionalizando ano após ano. Times de ponta já operam como clubes de futebol, com departamentos de análise, performance e gestão de carreira. Há cronogramas rígidos, metas de rendimento e acompanhamentos constantes. O glamour visto nas arenas é apenas a ponta de um iceberg feito de esforço repetitivo, sacrifício e disciplina.

Orgulho e pressão nas arquibancadas

“Ver ele jogando no Ibirapuera, com 9 mil vozes gritando o nome dele, foi surreal. Orgulho que não cabe no peito”, disse o pai. A lembrança é da histórica final que entrou para a história do Rainbow Six: a virada contra a Faze Clan, que ganhava de 6 a 1 no mapa decisivo, quando o jogo virou para 8 a 6 para a W7M. O ciclo foi coroado com três títulos mundiais consecutivos pela W7M: dois Majors (Copenhagen e Atlanta em 2023) e o Six Invitational 2024.

Mesmo com a fama e o sucesso, os conselhos dentro de casa continuam firmes: “A gente fala pra ele manter a humildade e o foco. É uma profissão efêmera, então ele tem que aproveitar ao máximo e continuar se superando. O cenário é muito competitivo, sempre surgem novos jogadores”, afirma a mãe de Kheyze.

https://imgur.com/mOraPqW

O olhar da imprensa

A ascensão dos e-sports também é observada por quem acompanhou a transformação de perto e de quem um dia já teve o sonho de viver dos videogames: os jornalistas especializados. 

“Em 2001, quando fui à CPL Rio de Janeiro, éramos vistos como nerds que ganhavam dinheiro jogando. Hoje, os jogadores são tratados como atletas. Há acompanhamento físico, psicológico… virou algo muito mais profissional”, diz Igor Dantas, um jornalista com mais de 20 anos de experiência no setor. Ele próprio começou jogando. “Comecei em 2002, quando tinha apenas 14 anos. Era redator na ShotGames, que depois virou O2e-Sports. Eu participava bastante do fórum da ShotGames, depois virei moderador e depois fui chamado pra escrever pro site. Era redator voluntário” afirma.

Segundo ele, os e-sports vivem uma era de consolidação e enfrentam desafios semelhantes aos esportes tradicionais:

“As condições iniciais ainda são difíceis, GHs mal gerenciadas, atrasos de salário… É parecido com times menores de futebol. Mas há resiliência. O maior desafio agora é sair do nicho e se tornar verdadeiramente mainstream. As Olimpíadas de e-sports já existem e têm tudo pra crescer. É um reflexo direto de como o setor se profissionalizou”, diz o jornalista.

O cotidiano de um atleta com alto rendimento 

Em entrevista exclusiva à Agenzia, Kheyze revelou bastidores da vida de um atleta de elite. Sobre a pressão de jogar em grandes eventos, como o Six Invitational 2024 ou o Reload, o jogador foi claro:

“A torcida pesa muito, principalmente jogando no Brasil. Eu tenho minhas formas de manter o foco. É muita responsabilidade”, diz.

Os treinos começam cedo e se estendem por horas, sempre com objetivos específicos: corrigir falhas, testar estratégias e adaptar a equipe a diferentes estilos de adversário. Cada scrim (partida de treino entre equipes) é pensada como um laboratório competitivo, uma preparação minuciosa para torneios que podem mudar carreiras.

“A gente treina com propósito. Cada mapa, cada rodada tem um objetivo. Se não tiver foco, você fica pra trás muito rápido”, explica Kheyze.

Por trás dos troféus, há também derrotas e frustrações. Kheyze relembra momentos difíceis, como a não classificação para o Major de Montreal, em 2023, e os problemas de visto para o Six Major Charlotte. “Foi uma experiência difícil… A gente dependia dos outros e não tinha muito o que fazer. Era só aceitar que era aquilo mesmo.”

Ainda assim, foram essas experiências que moldaram sua mentalidade de campeão. Cada obstáculo superado fortaleceu o jogador e, por extensão, ajudou a elevar o Brasil no cenário internacional dos e-sports.

Comunicação e confiança: um time em sintonia

No Rainbow Six, mais do que reflexos rápidos, a vitória depende de comunicação precisa. Um segundo de atraso em uma call pode decidir um round e, consequentemente, um campeonato.

Por isso, a relação entre os jogadores vai muito além da tela. Eles vivem juntos, compartilham rotina e criam vínculos que fortalecem a confiança mútua. “A confiança é tudo. Eu tenho que saber que, quando eu for, alguém vai me cobrir. E isso vem da convivência”, conta o jogador.

Essa conexão é trabalhada diariamente. Times campeões não se formam apenas por habilidade individual, mas por sinergia. São horas e mais horas de convivência, ajustes de mentalidade e alinhamento de objetivos para que cada jogada seja executada com precisão.

 O peso do legado e a comparação com lendas

“Quero ser lembrado não só pelas plays, mas pela forma que vivi isso tudo. Se eu inspirar outros jogadores a acreditarem no próprio talento, valeu a pena”, afirma Kheyze.

Essas comparações, em vez de gerar apenas pressão, servem como combustível para seguir evoluindo. “Somos uma equipe que pensa muito alto. Queremos sempre estar no topo. É muito prazeroso estar ali naqueles momentos levantando troféus.”

Mudança de organização e o amadurecimento profissional

Em março de 2024, Kheyze deixou a W7M para vestir a camisa da Furia Esports. A troca representou mais do que apenas uma mudança de equipe: foi um passo rumo a um novo patamar profissional. “Querendo ou não faz com que a gente trabalhe mais e queira evoluir mais, porque a Fúria quer títulos, e a gente também. Essa transição foi mais uma pressão interna mesmo”, explicou.

O nível de cobrança aumentou, assim como a estrutura ao redor: acompanhamento psicológico, treinos mais organizados, calendário controlado e suporte institucional robusto. Hoje, Kheyze atua não apenas como uma estrela mecânica, mas como um jogador estratégico e líder de equipe.

Ao longo da carreira, ele também viu seu estilo evoluir e passou a ser mais responsável em todos os sentidos:

“Eu era muito mais agressivo no começo. Hoje tenho mais noção de responsabilidade, de jogar pelo time. Aprendi muito nesses anos. Depois de tudo isso, o desafio é continuar com fome de vencer. Sempre tem algo a provar, mesmo pra mim.”

De um quarto com um console ligado a uma arena lotada no Ibirapuera, Kheyze representa uma geração de atletas digitais que está mudando a forma como o Brasil enxerga os jogos.
Mais do que pixels e reflexos rápidos, são histórias humanas: de esforço, de apoio, de superação e de sonhos. 

UTILIZAÇÃO DE IA
Não Declarado

Os autores deste conteúdo optaram por não fornecer informações sobre o uso de Inteligência Artificial em qualquer etapa da produção.

Lucas Delgado Orlandoni

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *