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14-junho-2025 Ano 1

Ginástica artística no Brasil: conheça os desafios dos atletas rumo ao pódio

A Agenzia conta com Federico Lupi, futuro jornalista e atleta profissional de ginástica artística. Por meio dele, a reportagem teve acesso privilegiado a outros ginastas, que contam os bastidores e o futuro da modalidade


Por Brenno Vergara, Federico Lupi, Gabriel Dinis, Leonardo Fagundes e Vinicius Rossi 


As Olimpíadas em Paris de 2024 registraram uma marca histórica para o esporte brasileiro. Liderada por Rebeca Andrade, a ginástica artística, empatada com o judô, foi a categoria que mais conquistou medalhas para o Brasil na edição, com quatro conquistas. A modalidade alcançou seu melhor desempenho na história. O caminho para se consolidar entre as principais potências do esporte, como Estados Unidos e China, parece ser o certo. Mas para que o sucesso dos últimos jogos não seja um acidente de percurso, há uma realidade complexa, feita de superação, investimento e, ainda, muitos desafios. 

A Lei de Incentivo ao Esporte, em 2006, sancionada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ampliou o investimento direto. Ela possibilitou a captação de recursos para a realização de projetos sociais, melhorias na infraestrutura e na qualificação de profissionais. Arthur Nory, hoje com 31 anos, foi um desses talentos que tiveram apoio do incentivo. “Eu era muito novo, mas vejo que foi um auxílio muito bom e importante para os atletas, porque a partir dos 14 anos, você já começa a receber o Bolsa Atleta”, lembra ele. 

Gráfico comparativo do histórico de medalhas do Brasil em Jogos Olímpicos antes e depois das Leis de Incentivo ao Esporte.

O Bolsa Atleta corresponde a um programa de incentivo financeiro que garante apoio mensal a esportistas com bons resultados em competições nacionais e internacionais, permitindo que se dediquem integralmente ao treinamento e à carreira esportiva. O auxílio ajuda, mas todo atleta de ponta precisa de outras formas de apoio. Arthur Nory comenta: “Muita gente não sabe, mas o esporte me trouxe bastante coisa fora. Ganhei bolsa integral na faculdade por ser atleta do Pinheiros e acho isso importante por ser uma oportunidade para ter uma transição de carreira”. Segundo ele, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) oferece um projeto de fornecer, com ajuda de parcerias e patrocínios, uma faculdade integral, para quem competir na seleção brasileira.

Gráfico do Programa Bolsa Atleta

Valores do Programa Bolsa Atleta (Anterior vs. Atual)

Comparativo dos valores mensais por categoria, após reajuste de 10,86% em 2024.
*Para a categoria “Atleta Pódio”, o gráfico mostra o valor mínimo da faixa.

Federico Lupi, da mesma equipe de Nory no Esporte Clube Pinheiros e aluno da Cásper Líbero, afirma que mudanças e melhorias ainda podem ser feitas para evolução da categoria. “Falta muita coisa no Brasil para garantir um bom desenvolvimento dos jovens atletas”, inicia, complementando que é preciso investir na base, tanto em estrutura, quanto em acesso. “Muitos talentos se perdem por falta de oportunidade, seja por apoio financeiro, ou até mesmo, incentivo nas escolas.” 

Legenda: Imagem 1 – Centro de Treinamento do Time Brasil no Rio de Janeiro. Imagem 2 – Ginásio do Esporte Clube Pinheiros.
Fotos: Federico Lupi/Agenzia

Nas competições, é notável que houve uma melhora de resultados, porém o sonho de um atleta começa a se moldar muito antes, em outro local. Os centros de treinamento são a segunda casa do ginasta e é nela que aprendem tudo que sabem. A trajetória da ginástica brasileira reflete bem a evolução (e as lacunas) dessas estruturas. Nory, medalhista olímpico nos Jogos Rio 2016, lembra de um início bem simples: “Quando comecei no clube da cidade, que é o Pelezão, não tinha aparelhagem oficial. Eu treinava num tatame, e lá também tinha aula de luta. Não tinha os outros aparelhos, cavalo, barra, argolas, era bem voltado só para iniciação”. A transição para o centro profissional do Esporte Clube Pinheiros foi um divisor de águas. “Quando entrei no clube aqui em Pinheiros, com muito mais estrutura do que tinha, foi uma evolução muito grande. E aí a gente também foi desenvolvendo e estruturando, porque a aparelhagem vai mudando também.” Para ele, a estrutura é crucial para o alto rendimento, ainda que existam aparelhagens mais simples para quem está começando. 

Lupi reconhece que os centros de treinamento evoluíram ao longo dos anos. “Deu para perceber que houve uma evolução nos centros de treinamento, tanto na estrutura, quanto na parte técnica. Hoje a gente tem acesso a equipamentos mais modernos, que oferecem mais segurança e ajudam no desempenho”, disse.  

A jovem ginasta Ana Luiza Lima, do Minas Tênis Clube, destaca a qualidade dos equipamentos do centro de treinamento da seleção brasileira, no Rio de Janeiro. “A gente tem acesso aos melhores aparelhos. Outros países vêm para o Brasil treinar com a seleção ou fazem pedidos, porque o nosso centro de treinamento atualmente é um dos melhores que tem no mundo”, afirmou. 

Ana lembrou que esses tipos de equipamentos não estão à disposição de todos, o que Nory reforçou como algo que diferencia o Brasil de outros países, citando Alemanha e França. “O centro que temos no Rio de Janeiro é um dos melhores do mundo. O principal diferencial é que lá eles têm em todo canto, toda cidade, em qualquer lugar um clube bem estruturado”, acrescentou. “Imagina quantos talentos devem ter sido perdidos fora do eixo Sul-Sudeste.”

O treinador Hilton Dichelli de ginástica posa para foto em Paris em frente a Torre Eiffel.

Legenda: Hilton Dichelli, técnico do Esporte Clube Pinheiros. Foto via Instagram: @hdbatata

Com experiências não só como técnico, mas também como atleta, Hilton Dichelli, atual treinador do Esporte Clube Pinheiros, nos passa uma visão mais ampla sobre o crescimento da ginástica no Brasil, acompanhando de perto as transformações da modalidade desde os primeiros passos no cenário nacional: “A ginástica era muito diferente na minha época, na década de 90, para a época atual, era uma ginástica que a gente foi desenvolvendo o conhecimento por erro e tentativa. As informações demoravam a chegar no país, então a gente foi aprendendo aos poucos e evoluindo. Então era uma ginástica muito diferente”, relembra. 

O treinador também relata que a chegada de informações de países mais desenvolvidos no esporte, foi crucial para que houvesse um crescimento no âmbito nacional. Segundo ele, técnicos com formação internacional, como um do Pinheiros que estudou na Rússia, trouxeram conteúdos valiosos e programas técnicos bem estruturados. Esse intercâmbio permitiu que o conhecimento se disseminasse em tempo real, deixando de ser restrito a regiões ou indivíduos e impulsionando o crescimento da ginástica no país. 

Apesar de grandes nomes, o Brasil ainda não produz em grande quantidade atletas considerados de elite. Além de uma questão de investimento e equipamento, o treinador destaca pontos sociais, como a desregionalização do profissional/atleta e seus treinadores.  “É uma preocupação nossa, desregionalizar, tirar um técnico de um polo. Tem uma pessoa lá crescendo em uma região e você pega o técnico dela e traz para a capital, isso acabou com o apoio. Você impacta uma sociedade. É isso que a gente gostaria que não acontecesse. Queríamos que as oportunidades ficassem no lugar que você nasceu, que você conseguisse desenvolver um bom trabalho lá. Isso seria o ideal para que a gente tivesse mais pessoas trabalhando.” Outro ponto destacado por Hilton, é a atual falta de valorização dos professores no Brasil: “Hoje eu sinto falta, e não é um problema governamental, quanto ao professor em si, não apenas o professor de educação física, mas o professor hoje, na sociedade, não está num patamar onde a pessoa sinta realmente um potencial de trabalho, um potencial de conquista, então, se não tem o piloto, não adianta ter a Ferrari”. 

Legenda: Imagem 1 – Federico Lupi, atleta do Esporte Clube Pinheiros. Foto: Agenzia
Imagem 2 – Ana Luiza, atleta do Minas Tênis Clube. Foto via Instagram: @analupireslima

Nas Olimpíadas de 2021, a ginasta norte-americana Simone Biles se absteve de competir por conta de sua saúde mental. Na época o assunto foi muito debatido, por ser algo que dificilmente acontece no cenário profissional. Os atletas mais jovens levantaram essa pauta importante, que na visão deles precisa ser trabalhada para melhor desempenho dos ginastas. “A ginástica já evoluiu bastante em formatos de treinamento, mas eu acho que essa pressão que os técnicos colocam em atletas tão jovens e esse peso que eles fazem esses atletas levarem, é algo que não é necessário e fazem atletas desistirem muito cedo, por isso que é muito importante o trabalho psicológico”, diz Ana Luiza. Federico ainda complementou a opinião da colega: “Sinto falta de um olhar mais humano sobre o atleta em formação. Às vezes, a cobrança vem muito cedo, sem o suporte psicológico e educacional necessário”. 

Apesar disso, Ana Luiza destaca que o assunto tende a ser mais discutido com o tempo e acredita que suas consequências serão menores. Ela reconhece avanços importantes e reforça o poder transformador do esporte: “A ginástica tem evoluído muito, não só na estrutura, mas no cuidado com o atleta como pessoa. Ainda há pressão, ainda tem coisas a melhorar, mas eu sou prova de que o esporte pode transformar vidas. Eu vim de um projeto social e hoje treino ao lado dos melhores do mundo. A tendência é que mais histórias como a minha sejam possíveis”, conclui. 

UTILIZAÇÃO DE IA

Uso mínimo

Este conteúdo foi produzido por jornalistas, com o uso de Inteligência Artificial em algumas etapas de apoio, como na revisão e edição textual.

IAs Utilizadas: ChatGPT

Leonardo Fagundes

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