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14-junho-2025 Ano 1

De criadores a jornalistas: a nova era da informação com influenciadores    

Influenciadores digitais têm ganhado espaço como fontes de informação e divulgação, muitas vezes sendo preferidos por marcas e pelo público no lugar de jornalistas tradicionais.

Por Isabella de Sena Rebouças, Letícia Banhos Pereira Gave, Lívia Jussara Zaidan Ferreira e Mariana Alves Noronha


A  ascensão dos influenciadores digitais redefiniu o cenário da comunicação. Antes, a influência sobre o público era predominantemente exercida por jornalistas da mídia tradicional. Agora, uma nova força se consolida, construindo seu próprio caminho e engajando de forma mais próxima com a audiência. Mas, afinal, qual é o impacto dessa mudança no jornalismo e no consumo de informação? Agenzia vai explicar para vocês.

Com o crescimento das redes sociais, a barreira entre os criadores de conteúdo e os consumidores de informação foi derrubada. Influenciadores falam de tudo, inclusive produzem análises políticas, notícias de última hora e até conteúdos aprofundados. E fazem isso atingindo milhões de pessoas por meio de plataformas como YouTube, Instagram e TikTok. Este fenômeno provoca um repensar sobre o papel e o formato do jornalismo, especialmente quando os influenciadores muitas vezes não seguem os mesmos critérios de apuração e ética que os jornalistas tradicionais.

O combate à desinformação

Muitos influenciadores se destacam ao abordar temas relevantes, estabelecendo uma conexão direta e acessível com o público. Um exemplo é a bióloga e influencer Mari Krüger, que se tornou conhecida por desmistificar produtos da indústria e combater a desinformação em saúde e ciência nas redes sociais. A ausência de formação acadêmica ou experiência jornalística em alguns casos levanta dúvidas sobre a credibilidade das informações, desafiando tanto o consumo de notícias quanto o mercado de trabalho para jornalistas, que precisam se adaptar a essa nova dinâmica.

Nessa era digital, ser apenas competente na apuração e redação de notícias parece não ser mais suficiente. Jornalistas se veem pressionados a construir suas marcas pessoais e a conquistar audiências também nas redes sociais. A jornalista e influenciadora Melissa Prado, estudante de jornalismo da faculdade Universidade Federal de Santa Catarina, repórter na TV UFSC e usuária das redes sociais como meio de compartilhamento de informações, descreveu que hoje em dia é quase obrigatório que um profissional da comunicação construa seu nome pelas plataformas digitais, principalmente os novatos.

Uma jovem mulher de pele clara e cabelos longos, pretos e cacheados aparece sentada atrás de uma bancada de telejornal. Ela está sorrindo com expressão alegre e usa uma blusa sem mangas, de tom claro. À sua frente, há algumas folhas de papel sobre a bancada. O fundo é azul vibrante, típico de estúdios de TV, e há uma câmera e um microfone visíveis, sugerindo que ela está participando de uma gravação ou simulação de jornal ao vivo.
Foto: Melissa Prado/Acervo pessoal.

Essa transição implica em criar presenças digitais que engajem e fidelizem o público. Em busca de visibilidade, muitos jornalistas utilizam plataformas como Twitter, Instagram e LinkedIn para compartilhar reportagens, opinar sobre temas relevantes e dialogar diretamente com seus seguidores. Ao mesmo tempo, essa evolução oferece oportunidades para conectar jornalistas ao público de maneira mais humana e direta.

Os influenciadores no jornalismo

Em coberturas de eventos musicais, esportivos e até mesmo políticos, criadores de conteúdo ganham destaque, enquanto os jornalistas profissionais enfrentam dificuldades para garantir seu (antigo) espaço (cativo) no mercado. Por que a preferência das empresas por influenciadores no lugar de jornalistas?

O influenciador tem muito mais proximidade com seu público do que um jornalista tradicional, por falar diretamente com seus seguidores de uma forma informal ou até mesmo só por mostrar sua rotina diariamente. Por isso, o engajamento do influenciador costuma ser muito maior do que o de um jornalista comum.

Para organizadores de eventos e marcas patrocinadoras, o influenciador é um caminho muito valioso por conta de sua presença digital e identidade com seu público, um público que muitas vezes um jornalista não alcançaria com a imprensa tradicional. Não se pode ignorar que jornalistas vão contar aquilo que estão vendo, incluindo visões críticas e nada favoráveis às marcas. Já os influenciadores…

A radialista da BandNews FM, Michelle Trombelli, atuando há mais de 20 anos e duas vezes vencedora do Troféu Mulher Imprensa como “Repórter de Rádio”, destaca que é muito importante que os jornalistas saibam usar as redes sociais de forma inteligente, principalmente como portfólio, para sobreviver no mercado, “O jornalista vai ter que saber usar as redes de uma forma inteligente para sobreviver no mercado. Em todas as profissões, mas mais ainda no caso do jornalista que é um produtor de conteúdo por essência”, diz a jornalista. E essa nova forma de jornalismo tem prós e contras. Um ponto positivo, dito pelo influenciador Caio Cascino, criador de conteúdo sobre futebol e estudante de jornalismo da faculdade Unip (Universidade Paulista), é o alcance e a visibilidade do influenciador, consequentemente gerando mais engajamento para o evento e, principalmente, para a comunicação com o público mais jovem.

Futuro do jornalismo digital

A substituição dos jornalistas tradicionais por influenciadores também levanta preocupações com a qualidade e a veracidade da informação passada. Jornalistas são formados para apurar fatos e seguir uma postura de acordo com a ética e, acima de tudo, imparcial. Já os influenciadores não têm esse preparo técnico.

O influenciador Rafael Vieira, o “Jukanalha”, apresenta o programa Quebrada FC no Pod Pah, e destaca que é importante encontrar um equilíbrio entre os dois. Ele afirma que seria muito interessante uma troca entre os influenciadores e os jornalistas: um lado por conta do engajamento e visibilidade, e o outro pela veracidade e conhecimento.

Foto: Rafael Vieira/Acervo pessoal.

Com o aumento da desinformação nos últimos anos, influenciadores e até jornalistas têm tomado mais cuidado ao compartilhar informações. Jukanalha, mesmo não sendo jornalista por formação, sempre checa se a informação é verídica. “Quando eu não tenho a informação precisa, busco sempre a fonte. Se é um assunto com o jogador e eu tenho intimidade com esse jogador, ou eu o conheço, eu vou atrás dele e pergunto: ‘Essa situação aqui é verídica?’”. Ele acredita que muitos jornalistas hoje perdem a credibilidade por priorizarem o furo de reportagem. “Essa mística antiga de que ‘eu preciso dar um furo de reportagem para me tornar famoso’ perde a verdadeira ação da profissão, que é levar a informação.”

O influenciador e estudante de Jornalismo Caio Cascino afirma que esse trabalho demanda muita responsabilidade, já que há grande influência nas informações postadas. Ele também comenta que já errou em relação à veracidade de algumas informações, pois ainda está em processo de aprendizagem. “Faço um roteiro mais pra ter os dados sobre o que eu vou falar, mas sempre tem que ter muita responsabilidade pra falar, principalmente para um público mais jovem também.”

 No lado esquerdo da tela, um jovem com barba e cabelo cacheado usa fones de ouvido e uma camisa do São Paulo Futebol Clube. Ele sorri enquanto, aparentemente esta respondendo a uma entrevista. À direita da tela, aparecem cinco janelas menores com participantes: três jovens, cada uma em seu próprio espaço, e uma terceira janela com uma menina sorrindo e segurando o celular, tirando uma selfie.
Foto: Lívia Jussara/AgenZia

Ana Pinto, outra influenciadora e também estudante de jornalismo do 7º semestre da Faculdade Ielusc, produz conteúdo voltado para a profissão. Ela comenta que tanto jornalistas quanto influenciadores devem ter responsabilidade ao compartilhar informações: “Vão ter pessoas que vão ser falsas, que vão falar mentiras, falar fake news. Mas daí? cadê a credibilidade no nome dessa pessoa?”. A influenciadora também fala sobre a reputação de quem produz conteúdo. “Essa é a sua ferramenta de trabalho. Se você não tem credibilidade, não tem como o povo te seguir, te acompanhar, porque eles não vão acreditar no que você está falando.”

Foto: Ana Pinto/Acervo pessoal.

Nas redes sociais, o que aparece no topo do feed não é aleatório. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube funcionam a partir de algoritmos que priorizam conteúdos com alto engajamento. Nisso, os influenciadores digitais levam vantagem comparado aos jornais, revistas e rádio.

Ao se comunicarem de forma direta e próxima com seus seguidores, os influenciadores conseguem gerar curtidas, comentários e compartilhamentos com mais facilidade, dando mais visibilidade para o assunto. O conteúdo, muitas vezes mais descontraído e emocional, é exatamente o tipo de material que os algoritmos interpretam como relevante. Já os jornais e portais de notícia, que seguem uma linguagem mais formal e editorialmente neutra, nem sempre conquistam a mesma interação imediata.

Não é mais apenas a qualidade jornalística que garante alcance, mas também saber como utilizar o algoritmo em seu favor. Isso não apenas transforma o papel do influenciador, que assume funções antes atribuídas ao jornalista, como também desafia os meios de comunicação a se reinventarem digitalmente. Segundo a influenciadora Ana Pinto, a realidade do mercado mostra que só a formação acadêmica não garante espaço ou destaque. Os influenciadores muitas vezes constroem seu espaço sem formação específica, mas com um alcance que jornalistas tradicionais muitas vezes não têm. Com autenticidade, constância e conhecimento de suas audiências.

É possível ser um jornalista de credibilidade com milhares de seguidores. Assim como é possível ser um influenciador responsável, que estuda, se informa e entende o impacto da sua fala. O futuro da comunicação parece caminhar para essa interseção, onde diploma, prática e influência não competem entre si, mas se complementam.

Em vez de rivalidade, o cenário ideal é de colaboração. Que jornalistas aprendam com os influenciadores a importância da conexão direta com o público. E que os influenciadores aprendam com os jornalistas a responsabilidade de apurar bem uma informação. Porque, no fim, mais do que um papel ou um número de seguidores, o que realmente importa é o compromisso com a verdade e com as pessoas. Segundo o influenciador Jukanalha, se houvesse uma troca e cada lado se unisse e trocassem experiências, seria benéfico para os dois lados. Um, por não ter experiência, mas ter o nível de alcance; outro, por ter experiência e não ter o alcance. Isso seria muito melhor.

Foto: Isabella de Sena/ AgenZia

Jukanalha também destaca que o nível de alcance é que acaba impactando no alcance da informação também aonde ela vai chegar com mais intensidade. “O jornalista tradicional tem o conhecimento e o entendimento de como conduzir uma entrevista, de como conduzir uma situação de reportagem. O influenciador tem mais facilidade pelo carisma que ele atingiu, pela notoriedade que ele tem, midiaticamente falando, mas o repórter de formação acadêmica é mais preparado. O que ele não tem é esse alcance que o influenciador tem.”

A tendência para o futuro é clara: não se trata mais de diploma versus influência, mas de diploma com influência, somado à prática constante. Quem souber unir esses três pilares estará mais preparado para enfrentar os desafios da comunicação moderna. No fim das contas, o público não quer saber apenas quem tem mais estudo ou mais seguidores, quer saber em quem pode confiar.

Isso não quer dizer que o diploma perdeu totalmente o valor. Ele ainda é um diferencial importante, especialmente quando aliado à prática e à responsabilidade no uso da informação. No entanto, o cenário atual exige mais: saber se comunicar bem, entender o público e manter credibilidade se tornaram habilidades tão valiosas quanto um certificado pendurado na parede.

O jornalismo e os influenciadores digitais seguem por caminhos paralelos, mas cada vez mais entrelaçados. A proximidade que os influenciadores têm com seus públicos e a autenticidade que oferecem estão transformando a forma como consumimos informações. Por outro lado, os jornalistas, com sua formação técnica e compromisso ético, continuam sendo fundamentais para garantir a qualidade e a veracidade das notícias.

Grupo C3

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